Astrodesenhos.

Abrindo o tópico de astrodesenhos com ilustrações clássicas feitas por astrônomos antes da era das astrofotografias, e também como um espaço para os astrodesenhos dos usuários do fórum:

Marte por Abbé Moreux em 1909 com uma luneta equatorial Schaer de 160mm F/D 20:



Astrodesenho de marte por E. L Trouvelot com uma luneta de 660mm:



Marte por Lucien Rudaux com uma luneta Secretan de 160mm F/D 20:



Jupiter por E. L Trouvelot com uma luneta de 660mm:



Jupiter por Abbé Moreux usando uma luneta Schaer de 160mm:

Marcos Poncio escreveu:A ilustração de Marte de E. L Trouvelot parece uma tempestade.
Será que ele pegou isso na época?

Olá Marcos, as tempestades na superfície marciana deixam a superfície com a mesma cor alaranjada dos desertos, por que a areia é levantada deles e espalhada por toda a atmosfera do planeta, principalmente durante as oposições periélicas. Esse astrodesenho parece ter sido realizado em alguma data anterior à grande aproximação de marte em 1879. Como era uma oposição periélica em cima vemos a calota polar norte, e a mancha escura à esquerda parece ser a região de Margaritifer Terra e a da direita Terra Meridian. A mancha arredondada entre elas parece ser a região de Aram Chaos. Podemos ver também no desenho alguns dos famosos canais (linhas retas) tão discutidos na época. Devido à alta qualidade dos seus desenhos E. L. Trouvelot (1827-1895), acabou sendo convidado em 1875 a usar por um ano o refrator de 26 polegadas (660mm) do Observatório Naval dos EUA. Ao longo da sua vida de observador ele chegou a produzir cerca de 7.000 astrodesenhos de alta qualidade.

Marcos Poncio escreveu:esta muito sugestivo para um 'tornado' ou algo assim.

É que as áreas escuras são horizontais em relação à superfície de marte, e o tornado tem formato vertical como vemos na nossa atmosfera, talvez um início de um dos "braços" de um furacão poderia adquirir um formato parecido, mas aquelas manchas escuras representam uma parte do solo marciano. Durante uma oposição periélica marte se aproxima a até apenas 56.000.000 km, o que em termos de distâncias astronômicas é quase nada, sendo que nessas ocasiões podemos ver a calota polar com uma pequena luneta, e até uma ou outra mancha com apenas um refrator de 60mm e 100x. O material artístico (Pastel) utilizado por Trouvelot para os seus desenhos certamente era do tipo a óleo, propiciando tons e semitons de forte intensidade na composição visual.

Falando em marte segue abaixo o primeiro mapa desse mundo desenhado em 1836, com base em observações visuais realizadas pelos astrônomos e Selenógrafos alemães Beer e Mädler, utilizando para isso um Franhoufer (refrator acromático) com 95mm de abertura F/D15 e motor de relojoaria para acompanhamento (fizeram também o primeiro mapa da lua):  



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Uma área do primeiro mapa da lua desenhado pelos dois astrônomos utilizando o mesmo instrumento:

Depois de Beer e Mädler o primeiro astrônomo a fazer um mapa mais pormenorizado de marte foi o italiano Giovanni Schiaparelli (1835-1910), quem pela primeira vez mostrou ao mundo astrodesenhos com os canais marcianos.



Refrator Merz de 220mm usado por Schiaparelli durante as oposições de marte com o qual descobriu os canais:



Marte e os canais de Schiaparelli:

O primeiro astrodesenho de marte foi feito por Fontana em 1636, com uma luneta um pouco maior do que a de Galileu:



Embora Fontana não pudesse ter descoberto nenhuma das manchas em sua superfície, foi o astrônomo Christiaan Huygens em 1655, com um refrator de 51mm e 3,2 metros de distância focal quem conseguiu visualizar a região de Syrtis Maior:




Astrodesenho de saturno por C. Huygens:



Saturno e jupiter por C. Huygens:



Giovanni Domenico Cassini (1625-1712) também elaborou astrodesenhos de marte:

Astrodesenho representando o mapa de marte realizado pelo astrônomo Nathanael Green (1823-1899), usando um refletor newtoniano de 210mm F/D11:

Astrodesenhos de marte por Camille Flammarion (1842-1925) feitos no seu observatório particular com um refrator acromático de 240mm F/D22:

O maior observador de marte, E. M. Antoniadi, fez os mais detalhados astrodesenhos desse planeta cujo mapa foi inclusive utilizado pela NASA para enviar a sonda Mariner IV até lá.
Inicialmente ele realizava observações com um refletor de 200mm, depois fez um longo estágio no observatório de Flammarion com o refrator de 240mm, para em seguida ir para o observatório de Meudon, quando utilizou a grande luneta de 830mm de abertuara e F/D 24. Foi com esse aparelho que Antoniadi confirmou que muitos dos canais eram granulações alinhadas e muito próximas, e que davam a impressão de serem linhas retas na superfície marciana.



Refrator de Meudon 830mm:













Mapa realizado em 1920:

Vamos voltar onde as primeiras imagens astronômicas tentaram reproduzir com os astrodesenhos, aquilo que o olho via da maneira mais fiel possível, e dentro da capacidade do instrumento utilizado e das habilidades artísticas do astrônomo.
Antes do surgimento da Astrofotografia, os Astrodesenhos eram a única forma de mostrar os detalhes e as particularidades observadas nas mais diversas classes de objetos celestes.
Essa prática foi Inaugurada com os célebres desenhos do pai da astronomia observacional, o italiano de Pisa Galileu Galilei (1564-1642). Quando Galileu construiu sua primeira luneta (à qual chamava de perspicillum) ela aumentava apenas 3 vezes. Alguns meses mais tarde ele aprimorou suas lunetas conseguindo uma ampliação de 20 vezes. Esse era o mais potente telescópio refrator na época, e com ele foram realizadas as suas detalhadas e meticulosas observações do céu. Outros telescópios mais potentes foram construídos por ele depois, e chegaram a alcançar ampliações de 30x.

Astrodesenhos da lua e dos planetas feitos pelo astrônomo britânico Thomas G. Elger (1836–1897), sendo a maioria deles obtidos durante as observações visuais com um refletor newtoniano de 212mm (8 1/2") aberto a F11:









Crateras Cassini e Theaetetus a nordeste do Mare Imbrium:



À esquerda um astrodesenho de Elger utilizando o refletor de 8 1/2" e 350x de aumentos, mostrando em jupiter a Grande Mancha Vermelha. À direita para efeito comparativo uma astrofoto feita pela sonda Voyager 1:



O mapa desenhado da lua dividido em quadrantes:

Série de Astrodesenhos dos astrônomos Lucien Rudaux (1874-1947) e seu colaborador Gerard DeVaucouleurs (1918-1995), feitos à partir de observações com um refrator de 200mm F/D 16.

Lucien Rudaux:



Refrator acromático de 200mm:







Astrodesenho da lua:



Eclipse lunar:



Mapa lunar:



Sol:



Trânsito de mercúrio:



Marte:









Jupiter:







Saturno:





Vênus e mercúrio em fase, marte, jupiter, saturno, urano e netuno:

Olá Marcos, sim, a nomeclatura dos acidentes lunares naqueles mapas é a mesma usada atualmente. Foram os cientistas e astrônomos jesuítas os principais desenvolvedores do sistema atual de nomenclatura lunar. Foram os trabalhos realizados pelo astrônomo e padre Jesuíta Giovanni Battista Riccioli (1598–1671), que em 1651 definiram os nomes para as formações lunares num mapa desenhado por um aluno seu (Grimaldi), e que mais tarde viria a tornar-se um importante astrônomo. Riccioli definiu nomes em latim para os mares de lava lunares (maria), entre eles o Mare Nubium (nuvens), Imbrium (chuvas), Frigoris (frio), Humorum (umidade), Serenitatis (serenidade), Tranquillitatis (tranquilidade), Nectaris (néctar) e Crisium (crises).
Riccioli nomeou também as crateras em homenagem a famosos cientistas e astrônomos da história, colocando os nomes dos antigos gregos no hemisfério norte e dos cientistas mais recentes do seu tempo no hemisfério sul. Colocou também o seu nome e o de Grimaldi em duas grandes crateras situadas no limbo oeste lunar.

Astrodesenhos do astrônomo inglês George Alcock (1912-2000), feitos durante as suas observações com o seu refrator de 4" instalado ao ar livre.



Refrator Cooke de 4 polegadas F/D 12.5 usado por Alcock para realizar os seus astrodesenhos:

Astrodesenhos realizados pelo astrônomo Catalão Comas Solá (1868-1937), publicados em suas obras, utilizando um refrator Mailhat 150mm F/D15 e o grande refrator de 380mm do observatório Fabra:









Marte:















A GMV em jupiter:







Desenhos da lua Titã com o refrator de 380mm F/D 20:





Saturno:



Eclipse solar:

Após as representações esquemáticas feitas por Fontana em 1636/1638 e Huygens em 1659, já em 1666 encontramos astrodesenhos de marte feitos pelo astrônomo Giovanni Domenico Cassini, que para corrigir a aberração utilizava refratores com até 5 metros de comprimento: